Elisabete Malafaia em entrevista: a descoberta de um novo dinossáurio em Portugal
Elisabete Malafaia foi entrevistada para o programa Admirável Mundo Novo da SIC Notícias, que pretende destacar descobertas ou avanços científicos envolvendo cientistas portugueses. A investigadora do IDL falou sobre a descoberta de uma nova espécie de dinossáurio em Portugal, um gigante carnívoro que viveu há cerca de 145 milhões de anos, levada a cabo por um grupo de paleontólogos portugueses (IDL/FCUL) e espanhóis (UNED - Universidad Nacional de Educación a Distancia de Madrid).A nova espécie foi denominada Lusovenator santosi: “venator” significa “caçador”, “Luso” refere-se à região onde foi encontrada, “santosi” pretende homenagear o aficionado da Paleontologia José Joaquim dos Santos, cuja colecção de fósseis foi determinante nesta e noutras descobertas. Pertence à família dos Carcharodontossaurios, um grupo conhecido e abundante no Hemisfério Sul durante o Período Cretácico (144 a 66 144 milhões de anos atrás). A identificação desta nova espécie na Península Ibérica vem mostrar que esta família já estava presente no Hemisfério Norte 20 milhões de anos antes, no final do Período Jurássico (155 a 145 milhões de anos atrás).Esta descoberta trouxe novos dados sobre a expansão deste grupo de dinossáurios no planeta, preenchendo lacunas na informação existente até agora no que diz respeito à sua distribuição geográfica. A investigadora admite que a descoberta é surpreendente, já que o grupo de investigação tem trabalhado com este material há alguns anos e inicialmente pensaram que se tratava de um individuo juvenil do género Allossaurus. O que permitiu a sua correcta identificação foi a comparação com exemplares provenientes da América do Norte e também de um adulto escavado em Cambelas, Torres Vedras (o juvenil foi encontrado em Valmitão, na Lourinhã).O Lusovenator santosi viveu há 145 milhões de anos (Jurássico Superior) na Bacia Lusitânica. Tal como outros terópodes – como o famoso Tyranossaurus Rex –, era um gigante carnívoro que habitou numa zona húmida e pantanosa, rica em vegetação. Ainda está a ser investigado se tinha preferências ambientais.Elisabete Malafaia destaca, como descoberta de maior impacto na paleontologia internacional em 2020, o estudo que permitiu relacionar um evento de alterações ambientais drásticas, conhecido como o Evento Pluvial Carniano, que favoreceu a proliferação e diversificação dos dinossáurios pelo planeta, com um aumento de actividade vulcânica intensa. Até agora, pensava-se que este tinha acontecido apenas a nível regional (Canadá e Alaska), mas este estudo revelou que o acontecimento foi global e deu início à era de domínio dos dinossáurios na Terra.A investigadora revela ainda que todas as aves que conhecemos hoje evoluíram de terópodes de pequenas dimensões que sobreviveram à Era Mesozóica (que terminou há 65 milhões de anos, com a extinção em massa dos dinossáurios). Pode-se, portanto, dizer que ainda há dinossáurios entre nós nos dias de hoje.