Descoberto novo mecanismo de formação de aerossóis atmosféricos que pode acelerar o degelo no Árctico
(Imagem: Helen Cawley)Num artigo publicado a 5 de Fevereiro de 2021 na revista Science, a colaboração CLOUD (Cosmics Leaving Outdoor Droplets) no CERN mostra que partículas de aerossóis feitas de ácido iódico podem formar-se de uma forma extremamente rápida na camada limite marinha, isto é, a porção da atmosfera que está em contacto directo com o oceano. O estudo revela também que os raios cósmicos aceleram a formação dos aerossóis.Apesar da maioria das partículas atmosféricas se formar a partir do ácido sulfúrico, o ácido iódico pode ser o principal agente em regiões marinhas intocadas pela actividade humana, pois nestas regiões as concentrações de ácido sulfúrico são extremamente baixas. Estudos recentes têm vindo a relatar que, sobre o gelo do Árctico, a formação de novas partículas é muito mais impulsionada pelo ácido iódico do que pelo ácido sulfúrico. O iodo proveniente do mar e do gelo é convertido pelo ozono e pela luz solar em ácido iódico e outros compostos.Além disso, os investigadores descobriram que as partículas de ácido iódico se formam muito rapidamente, muito mais do que as partículas de ácido sulfúrico em concentrações semelhantes. Descobriram também que os iões oriundos da radiação cósmica aumentam a taxa de formação das partículas ao máximo, isto é, esta fica apenas limitada pela frequência com que as moléculas colidem.Estes resultados têm consequências relevantes. A superfície oceânica, o gelo marinho e as algas marinhas superficiais são fontes importantes de iodo atmosférico, e as emissões globais de iodo nas altas latitudes triplicaram nas últimas sete décadas, sendo provável que continuem a aumentar no futuro à medida que o gelo marinho se torna mais fino.O porta-voz da experiência CLOUD Jasper Kirkby explica: "Nas regiões polares, os aerossóis e as nuvens têm um efeito de aquecimento porque absorvem radiação infravermelha emitida pela Terra e irradiam-na de volta para a superfície. Um aumento de aerossóis com base de ácido iódico e a consequente formação de nuvens poderá, portanto, consistir num feedback positivo anteriormente não contabilizado que acelerará o degelo marinho no Árctico."A colaboração CLOUD conta com mais de 100 investigadores, incluindo António Tomé, investigador do IDL e professor da UBI. Artigo Science: He et al. (2021) Role of iodine oxoacids in atmospheric aerosol nucleation, Science, 371, 6529, 589-595. DOI: 10.1126/science.abe0298 https://www.youtube.com/watch?v=THj_Xkid7oQ